terça-feira, 15 de junho de 2010

HISTERIA COLETIVA OU OBSESSÃO EPIDÊMICA?


RECENTE CASO DE “HISTERIA COLETIVA” NO MÉXICO SURPREENDE A OPINIÃO MUNDIAL

A imprensa jornalística veiculou recentemente um estranho caso de “histeria coletiva”, acontecido em internato católico na cidade de Chalco, no México. A notícia nos chegou ao conhecimento via Correio WEB, edição de 7/4/2007.


O FATO:

Tudo começou em outubro de 2006, no Internato “Villa de las niñas”. Duas meninas foram acometidas, espontaneamente, de vertigens e de uma espécie de “atrofia muscular” nos membros inferiores, seguida da incapacidade de mobilizar as próprias pernas.

Todavia, em março de 2007 , a cifra alcançava o surpreendente número de seiscentas jovens vitimadas pelo estranho mal, para surpresa do corpo diretivo da instituição, integrado por religiosas de origem asiática e estarrecimento da classe médica local.

A nota jornalística deixa claro que o grupo não apresentava nenhum problema prévio de saúde, com o qual se pudesse estabelecer relação de causa e efeito com a posterior histeria. As autoridades sanitárias, os profissionais do Hospital Infantil e da Secretaria de Saúde do México não economizaram esforços na investigação, mas a hipótese mais provável é a de que tudo não passa de um notável fenômeno psicológico de “histeria coletiva”.

O internato é dirigido por uma congregação de religiosas sul-coreanas, conhecida pela disciplina rígida imposta às crianças. Detalhe significativo: os sintomas misteriosos desaparecem quando as meninas se ausentam do local.


O PONTO DE VISTA MÉDICO:

A psiquiatria dedica um capítulo ao estudo da “neurose histérica”, muito embora, na atualidade, essa expressão, já em desuso, tenha sido substituída por transtorno dissociativo ou conversivo. Pois bem. Diríamos, então, que o transtorno conversivo é uma perda parcial ou completa da integração entre a memória, a consciência de identidade e o controle dos movimentos corporais.

De acordo com os manuais psiquiátricos, o impulso causador da ansiedade é convertido em sintomas funcionais ou somáticos, que comprometem a mente ou partes do corpo, desencadeando, entre outras manifestações, a perda da função motora, a exemplo da paraplegia circunstancial observada no caso mexicano.

Note-se que essas manifestações se efetivam na ausência de qualquer substrato anátomo patológico, sendo a expressão orgânica de conflitos intrapsíquicos. Mas a psiquiatria nos fornece outras informações sugestivas sobre os transtornos conversivos. Há situações em que o sujeito pode apresentar um quadro de personalidade múltipla, de sonambulismo ou até mesmo de escrita automática, tudo creditado na condição de transtorno dissociativo, conquanto, no contexto experimental da ciência espírita, cada uma dessas situações pudesse ser submetida ao crivo da investigação mediúnica.

Naturalmente, o parecer da ciência oficial não deixa de se fixar na causa psicológica dos aludidos fenômenos, muito embora, em confronto com as manifestações coletivas de transtorno conversivo, a hipótese espírita nos pareça lógica e inquestionável, pois a sua metodologia investigativa dispõe do instrumental mediúnico humano, o mais adequado para esclarecer o diagnóstico de uma subjugação espiritual.


ANÁLISE ESPÍRITA DO FENÔMENO:

Os transtornos dissociativos de caráter epidêmico (obsessões coletivas) são bastante familiares aos estudiosos do Espiritismo. Allan Kardec, em várias oportunidades, referiu-se às obsessões epidêmicas, disponibilizando-nos um farto material de estudo.

Entretanto, para melhor compreensão, relembremos o conceito de subjugação, ponto de partida para o entendimento do inusitado fenômeno. “A subjugação é um envolvimento que produz a paralisação da vontade da vítima, fazendo-a agir malgrado seu. (...) A subjugação pode ser moral ou corpórea. No primeiro caso, o subjugado é levado a tomar decisões freqüentemente absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, considera sensatas: é uma espécie de fascinação. No segundo caso, o Espírito age sobre os órgãos materiais, provocando movimentos involuntários.”(1)

Os processos obsessivos, apesar de generalizados, fogem à alçada dos bancos acadêmicos, o que, infelizmente, justifica as apreciações incorretas sobre certos fenômenos insólitos.

A subjugação espiritual é o exemplo de constrangimento máximo a que o encarnado pode se submeter. Ela interfere tanto no componente moral quanto nos órgãos materiais do ser. Nesse último caso, o sujeito sente-se tomado por uma vontade maior que o compele a agir contra a sua própria vontade.

À medida que o envolvimento fluídico se intensifica, os espíritos podem forçar sua vítima a praticar movimentos involuntários, assim como induzir paralisias musculares, pois exercem uma influência capaz de excitar ou inibir os núcleos motores da organização física.

E não se pense que a subjugação só atinge um indivíduo por vez, porquanto são inúmeros os exemplos de manifestações coletivas orquestradas pelos maus espíritos. “Aquilo que um Espírito pode fazer a uma criatura, vários deles o podem sobre diversas, simultaneamente, e dar à obsessão um caráter epidêmico. Uma nuvem de maus Espíritos pode invadir uma localidade e aí se manifestarem de várias maneiras. Foi uma epidemia de tal gênero que se alastrou na Judéia, ao tempo de Cristo, e, em nossa opinião, é uma epidemia semelhante que ocorre em Morzine.”(2)

A Revista Espírita publicada por Allan Kardec descreve detalhadamente um famoso caso ocorrido na comuna de Morzine, departamento da Alta Sabóia, França e, contra o qual falharam todos os recursos médicos e da religião.

Os fatos observados na epidemia obsessiva de Morzine, no século XIX, e os acontecimentos recentes registrados na cidade de Chalco, México, nos permitem algumas deduções. Em ambos, a epidemia insólita incidiu em crianças e jovens. Assim sendo, a nossa percepção nos faz crer que o alvo preferido das nuvens de maus espíritos sejam as crianças, talvez pela incapacidade de melhor se defenderem.

Acrescente-se um outro detalhe: as epidemias obsessivas não costumam recair sobre as criaturas letradas e possuidoras de um melhor domínio sobre si mesmas. “Querendo exorcizar estes infelizes, na maioria crianças, o cura mandou trazê-las à igreja, conduzidas por homens vigorosos. Apenas pronunciou as primeiras palavras latinas, produziu-se uma cena terrificante: gritos, saltos furiosos, convulsões, etc.; a tal ponto que mandaram chamar os soldados de polícia e uma companhia de infantaria para restabelecer a ordem.” (3)

No nosso entender, a força descomunal demonstrada pelas crianças de Morzine ou a paralisia incapacitante a que elas foram submetidas em Chalco, servem para comprovar o poder da ação subjugadora fluídica, que se abate avassaladora sobre as vítimas.

Não afastamos, em hipótese alguma, a possibilidade de um fenômeno auto-sugestivo motivado pelo espírito de imitação. A mente excitada é capaz de produzir fenômenos extraordinários. Todavia, ao estudarmos as obsessões epidêmicas na obra kardeciana, ressaltam as informações provenientes de mentores categorizados, apontando como causa dos fenômenos incomuns, a influência tenaz de espíritos perturbadores.

Ainda sobre Morzine, conforme nos informa a Revista Espírita, pinçamos um relatório da sociedade médica local publicado pela “Gazette Médicale de Lyon”, onde destaca-se sugestiva apreciação: “O dr. Caille concluiu por uma afecção nervosa epidêmica, que escapa a toda espécie de tratamento e de exorcismo. (...) Todos os infelizes obsedados, em suas crises, pronunciam palavras sujas; dão saltos prodigiosos por cima das mesas, trepam em árvores, nos telhados e, às vezes, profetizam.”(4)

Ora, a expressão “profetizam” pode ter o significado de simples manifestação mediúnica, o que consagra a tese espírita que defende a interferência dos desencarnados sobre as crianças de Morzine.

Observações acuradas apontam outras possibilidades: os casos mais graves de obsessão coletiva costumam atingir a gente simples, ignorante e mais impressionável. “Ninguém ignora que quando o Cristo, nosso muito amado Mestre, encarnou-se na Judéia, sob os traços do carpinteiro Jesus, aquela região havia sido invadida por legiões de maus Espíritos que, pela possessão, como hoje,se apoderavam das classes sociais mais ignorantes, dos Espíritos encarnados mais fracos e menos adiantados..."(5)


CONCLUSÃO:

Na contemporaneidade, a mídia tem divulgado inúmeras circunstâncias, nas quais subentende-se o fenômeno de obsessão coletiva a manifestar-se sobre criaturas moralmente comprometidas, ignorantes e que dão azo às paixões inferiores descontroladas e primitivas na produção de escândalos sucessivos.

Sem maiores dificuldades, identificamos quadros de obsessões coletivas em múltiplas circunstâncias do cotidiano, por exemplo: em meio às convulsões sociais, políticas ou reivindicativas, que resvalam freqüentemente para a violência; em período carnavalesco, quando a TV enfoca desfiles de criaturas desnudas e debochadas, imersas na luxúria e na depravação dos costumes; em festas raves, onde a juventude, ao som da música perturbadora e sob o efeito de drogas tóxicas, cria ambiente propício à atuação dos espíritos maléficos, descambando para a violência explícita e descontrolada.

Recordemos, ainda, os tristes espetáculos retransmitidos pela mídia televisiva, envolvendo torcidas esportivas que se digladiam nos estádios e nas vias públicas, em nome da paixão por determinado time, e por aí vai.

Se pudéssemos devassar o campo astral desses grupos sociais, identificaríamos nuvens de espíritos maléficos que controlam com facilidade as mentes desequilibradas dessas criaturas infelizes.

Em se tratando da participação de seres invisíveis na gênese das epidemias obsessivas, reconhecemos a ineficácia dos meios médicos e dos exorcismos inúteis, na contenção do problema.

Só o caráter científico do Espiritismo permite uma posição mais analítica do assunto ao lado de medidas saneadoras úteis ao encaminhamento dos casos.

Não está longe o dia em que os profissionais de saúde adeptos do ideário espírita saberão diferençar uma afecção orgânica de uma enfermidade espiritual, seja obsessão individual ou coletiva, de modo a minimizar os equívocos diagnósticos, reduzir os sofrimentos e evitar os gastos inúteis.


Vitor Ronaldo Costa



Fonte: Grupo Virtual Piauí Espírita



- NOTA -

1-KARDEC, Allan . O Livro dos Médiuns, cap. XXIII, item 240.

2-KARDEC, Allan . Revista Espírita, pág. 8, vol. 1, janeiro de 1863, EDICEL.

3-KARDEC, Allan. Revista Espírita, pág. 107, vol. 4, abril de 1862, EDICEL.

4-Idem, pág. 108.

5-Ibidem, pág. 109

Um comentário:

  1. Muito bom. Obrigada pela informação.
    Paz e Luz, sempre com Jesus!

    ResponderExcluir

Que a Paz do mestre Jesus esteja contigo!