Neste ano, especialmente por conta do centenário de Francisco Cândido Xavier, o Espiritismo, juntamente com a história de vida do médium mineiro, tem ganhado um maior destaque na mídia. São filmes, programas de TV, jornais, revistas e sites na internet. Natural que no meio de tantas informações e notícias positivas sobre a Doutrina revelada pelos Espíritos e codificada por Allan Kardec na década de 1850, apareçam algumas inverdades e episódios lamentáveis.
Queremos falar sobre duas situações desse último tipo ocorridas neste mês de abril.
A primeira se trata de uma reportagem publicada pela Revista SuperInteressante a respeito de Chico Xavier, que “mereceu” capa com a manchete “Uma investigação: Chico Xavier”, mas que recebeu também crítica contundente e muita justa do escritor espírita Richard Simonetti. Após ler a reportagem, ele, assinante da revista, escreveu uma carta ao seu redator, na qual enunciou inúmeros pontos equivocados da matéria. A autoria da carta foi confirmada pelo próprio cronista quando esteve em Teresina proferindo palestra na Federação Espírita Piauiense, também neste mês. Essa carta vem sendo passada de e-mail a e-mail, circulando amplamente na internet e seu conteúdo pode ser encontrado no link http://www.proparnaiba.com/espiritismo/carta-de-simonetti-apontando-erros-na-super-interessante-sobre-chico-xavier.html
Essa suposta investigação empreendida pela repórter que assina a matéria, tem caráter claramente preconceituoso. Busca constantemente macular a imagem do médium espírita, atribuindo-lhe a prática de pastiche (1) como explicação para as mensagens recebidas de escritores do outro lado da vida, o uso de mistificação nos fenômenos de efeitos físicos de materialização de Espíritos e de exteriorização de perfume e fraude no recebimento de mensagens dadas por Espíritos desencarnados aos seus respectivos familiares. Isso, só para resumir. Não há, na realidade, uma investigação séria feita pela revista, mas uma tentativa de colecionar boatos e mentiras contra o apóstolo da caridade, mesmo sabendo ou devendo saber as origens delas e o fato de que não seriam verdadeiras. Em diversos trechos, encontramos as palavras mal utilizadas, as ênfases sobre pontos estritamente negativos e as conclusões equivocadas. Essas últimas, obtidas através de uma espécie de silogismo feito com base em premissas falsas. Como diz Simonetti, “objetivando, nas entrelinhas, denegrir e desvalorizar o trabalho do grande médium”.
Nesse mesmo mês de abril, constatamos uma outra situação que a mídia procurou repercutir. Para nós, um ato de insensibilidade por parte de alguns jogadores de futebol da equipe do Santos. O clube programou uma visita ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, localizado na Baixada Santista (SP) e que atende um pouco de mais de trinta crianças com paralisia infantil. A ideia era que os jogadores distribuíssem por ocasião da Páscoa, ovos de chocolate aos meninos e meninas. Mas, surpreendentemente, na chegada ao local, alguns atletas, craques da bola, pisaram nela fora de campo e se “refugiaram” no ônibus. As explicações dadas pela maioria dos que se negaram a participar da atividade, foi a de que eles não teriam sido avisados de que se tratava de uma instituição espírita. E de que a ida a um local como aquele, atentava contra os seus princípios religiosos, já que eram evangélicos. Pasmem, ainda que a visita se tratasse de um gesto de caridade para com aquelas crianças.
Pensamos, porém, que fatos dessa natureza devem servir menos para o julgamento das pessoas envolvidas - criaturas ainda imaturas espiritualmente - e mais para reflexão coletiva, incluindo-se elas. Por exemplo, deve uma denominação religiosa estar acima da caridade, da oportunidade dada por Deus de ajudar o próximo, independente de quem seja esse próximo? Provavelmente, aqueles “garotos” do Santos nunca leram ou puderam refletir sobre a parábola do bom samaritano, contada pelo Cristo e contida na Bíblia, livro sagrado para a religião que professam.
Relembrando a passagem evangélica, trata-se daquela na qual um samaritano, considerado em sua sociedade como um herético, ajuda um estranho que se encontrava semimorto na estrada. Isso, após um sacerdote e um levita, religiosos ortodoxos, terem passado pela mesma pessoa sem prestar qualquer auxílio. A lição dada por Jesus é muito clara: “(Jesus) não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única” (2).
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Apesar dos fatos negativos, podemos encontrar o lado bom, a luz no meio da escuridão. É o que vemos, por exemplo, na atitude de outros jogadores da mesma equipe, que compreendendo muito bem a importância da visita, participaram, desde o primeiro instante, da atividade. E, de uma forma ou de outra, parte daqueles jogadores que se recusaram a adentrar o lar beneficente na primeira oportunidade, retornaram dias depois, na tentativa de reparar o erro cometido.
Do mesmo modo, as críticas feitas por Simonetti trouxeram uma mobilização importante entre os espíritas. Segundo o cronista, várias pessoas encaminharam cartas e e-mails à redação da revista criticando a reportagem, muitas delas com base na carta enviada por ele. Penso que o que a maioria dos espíritas pede, é muito pouco; apenas que se fale a verdade, que não se “construam” histórias que não correspondem aos fatos e que se façam conclusões com maior responsabilidade. Para isso, não é necessário que o corpo editorial da revista ou a jornalista que assinou a matéria concordem com ou sejam adeptos do Espiritismo. Basta que ajam com isenção.
No entanto, como contraponto ao “indigesto” artigo, foi lançada pela mesma Editora que publica a revista SuperInteressante, uma edição especial da revista “Aventuras na História” com o título “Espiritismo: a trajetória de uma doutrina”. Em material de ótima qualidade e com espírito realmente informativo, a revista se propõe a falar do tema, com a finalidade de levar esclarecimento ao seu leitor, trazendo desde o perfil de pessoas como o prodigioso sueco Swedenborg até o Espírito André Luiz. Falando desde o episódio das Irmãs Fox, narrado numa história em quadrinhos, até os “filmes espíritas que invadem os cinemas”.
Como exemplo do espírito um pouco mais maduro, aberto ao novo, queremos destacar, por último, a “carta” apresentada no editorial dessa mesma revista, intitulada “Estamos neste mundo para aprender”, da qual transcrevemos a seguir algumas palavras. Diz o editor Eduardo Lima: “confesso que não sabia quase nada sobre espiritismo até entrar no projeto desta edição especial. Acho que até cultivava certo preconceito (...) pesquisa daqui, conversa dali... Acabei me surpreendendo com aquilo que fui descobrindo. As histórias por trás dos fatos que marcam a trajetória da doutrina espírita são fascinantes (...) Como pude ignorar por tanto tempo histórias e personagens tão bacanas?”
É a luz que surge no meio das sombras.
Raul Ventura
(responsável pela Coluna Espírita 180Graus)
Teresina, 28/04/2010.
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Notas
1. Pastiche aparece no Dicionário Aurélio, como “obra literária ou artística plagiada de outra”. Como diz Simonetti, em sua carta à edição da revista, “a técnica do pastiche, a imitação de estilo literário, é extremamente difícil, quase impossível. Pastichadores conseguem imitar uma página, uma poesia de alguém, jamais toda uma obra ou as obras de centenas de autores”.
2. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV “Fora da Caridade Não Há Salvação”, item 3. FEB, 124ª ed.
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Que a Paz do mestre Jesus esteja contigo!