domingo, 23 de janeiro de 2011

MEDITAÇÃO SOBRE O ESTUDO DO ESPIRITISMO

O praticante espírita vai ao centro, habitualmente, uma vez por semana. Ouve palestra, recebe o passe e se sente satisfeito. Grande parte de nós, saídos do catolicismo, fomos orientados a assistir à missa, pelo menos uma vez por semana. É o que continuamos fazendo como espíritas.

A maioria das casas, no entanto, além das palestras públicas, oferece cursos regulares para o estudo doutrinário ou do Evangelho de Jesus. Os Estudos Sistematizados da Doutrina Espírita – ESDE –, a Escola de Aprendizes do Evangelho, Escola de Educação Mediúnica, Cursos Básicos de Espiritismo, etc.

Em outras casas, o estudo não segue nenhum desses padrões conhecidos, mas, sim, a orientação do dirigente que determina a forma e os livros a serem estudados. Outros preferem cursos pela internet. Tudo válido e importante.

O que desejamos demonstrar é que isso é pouco para o bom aproveitamento da encarnação.

Em agosto de 2005, estávamos em Matão, a convite do Jornal O Clarim, participando das comemorações dos 100 anos da sua criação, por Cairbar Schutel. Na porta do hotel, minha esposa e eu conversávamos com uma amiga, quando fomos abordados pelo mestre da oratória espírita, nosso caro Divaldo Pereira Franco, que nos conhecia apenas de nome. Disse o nobre confrade, num gesto de extrema humildade e franqueza: "– Caúmo, leio todos os seus escritos; gosto muito e aproveito!" Despediu-se e foi atender a uma noite de autógrafos que o esperava no salão do evento.

Apesar de tentar cultivar o equilíbrio do autoconhecimento e estar vacinado contra os elogios triviais, não podemos esconder que uma ponta de vaidade tomou conta de nós. Afinal não era um comentário qualquer.

Ouvimos de Divaldo, certa vez, que ele estuda até hoje, diariamente, durante uns vinte minutos, o Livro dos Espíritos, mesmo depois de mais de seis décadas de serviço cristão e responsável direto pela abertura de quase todos os centros espíritas, nos distantes países por onde passa, já que se dedica, em tempo integral, à divulgação do Espiritismo e à pratica da caridade. Que mais teria ainda o conferencista a aprender com a obra básica, relendo tudo o que já conhece? E que aproveitaria ele de nossos escritos?

No item XIII da Introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec diz que “são necessários vários anos para formar um médico de nível médio, três quartos da vida para se formar um cientista, e há quem pretenda adquirir, em algumas horas, a ciência do infinito!Que ninguém, portanto, se iluda: o Estudo do Espiritismo é imenso; abrange as questões da Metafísica e da ordem social; é todo um mundo que se descortina à nossa frente. Deve-se espantar de que isso exija tempo, e muito tempo, para ser aprendido?”

Somos alunos permanentes e, nesse sentido, tudo o que vemos, ouvimos ou lemos, nos periódicos especializados em Doutrina Espírita, pode ser útil para nós, de alguma forma, se tivermos interesse e atenção.

Cada vez que relemos uma questão de O Livro dos Espíritos, somos uma pessoa diferente. Após viver um dia, não vamos dormir como acordamos. Estamos acrescentados de algum conhecimento e, muitas vezes, o inusitado pode mudar nossa maneira de entender a vida.

Nesse sentido, admito que uma pessoa cuidadosa, lúcida e plena de conhecimento, como nosso estimado Divaldo, até possa encontrar alguma frase, conotação ou figura de análise, nos nossos escritos, que, porventura, possam lhe agradar. Sabemos que seu comentário foi um gesto de delicadeza mais do que a importância que pudesse ter o nosso trabalho. Mas foi estimulante para que continuássemos com a mesma dedicação.

Há que se considerar, porém, que o maior mérito dos escritos e palestras de um divulgador se deve às interferências dos Espíritos que, benevolentes, colocam ideias em nossas mentes e palavras em nossas bocas. Daí não ser incomum dizermos, após um trabalho, que esta ou aquela afirmativa que fizemos foi interessante, já que nunca havíamos pensado no assunto! Foi novo até para nós! Basta estar de coração aberto que a inspiração chega!

Ninguém se arvore pleno conhecedor do Espiritismo, pós-graduado ou doutor honoris causa, porque, neste mundo de provas e expiações, estamos todos no jardim da infância do conhecimento espiritual. Na escada da vida eterna, estamos nos primeiros degraus, segurando-nos para não cair e ter de recomeçar, quase do zero, mais uma vez.

Fizemos um pequeno cálculo, já que nosso esforço diário se concentra na manutenção do corpo: as oito horas de sono, mais as oito de trabalho, para a sobrevivência, e as demais, gastas nas mesas de refeição ou no translado para a escola ou trabalho, deixam pouco tempo para o cultivo dos valores espirituais.

DIVAGUEMOS...

Admitamos uma vida adulta de 70 anos, que são 840 meses ou 25 200 dias ou 604 800 horas, numa encarnação.

Vamos ao centro, uma vez por semana, onde permanecemos por uma hora, assistindo a uma palestra, nem sempre com a melhor atenção. Isso representa que, nesses 70 anos, fomos à casa espírita, numa conta arredondada, 4 horas por mês que dão 48 horas por ano ou 3 360 horas na encarnação.

Como vivemos 604 800 horas e fomos ao centro 3 360, significa que gastamos 0,55% do nosso tempo com as lições para melhorar a alma, que é imortal. Não parece pouco?

Ainda que dobremos esse tempo e consideremos que vamos ao centro mais um dia, para estudo, isso representaria apenas 1,1% do tempo de encarnados.

Diante da TV ou do computador, nas salas de bate-papo e jogos, ficamos, no mínimo, 3 horas por dia. Isso é 22,5 vezes mais do que gastamos para estudar sobre espiritualidade. E falamos do mínimo, mínimo! Muitos ficam duas ou três vezes mais.

Espero não me ter enganado nas contas. Mas, ainda que algo esteja ligeiramente errado, todos estamos de acordo de que é preciso dedicarmo-nos mais ao estudo e à prática da nossa Doutrina, porque a falta de entendimento e o bem que deixamos de fazer poderão nos prejudicar, mais tarde, quando os valores do mundo já não mais tiverem interesse para nós.

Como nem sempre é possível fazer tudo no centro, pautemos nossa vida por um comportamento cristão que possa acrescentar algo a esse mínimo mencionado. E os que têm tarefas específicas na Doutrina – palestrantes, professores, médiuns, doutrinadores, passistas – agradeçam a Deus pela dádiva.

Desculpo-me com o confrade Divaldo, por utilizar seu nome, neste breve roteiro, mas o fiz porque sua obra e seu exemplo são estímulos para nós e devem ser copiados pelos que têm compromissos com o Espiritismo e com outras doutrinas, também. A sua declaração de que é estudante permanente dos assuntos da espiritualidade é um estímulo para que façamos o mesmo.

Aos meus possíveis leitores, rogo a Deus para que os abençoe, e que Jesus possa habitar cada vez mais nos corações de todos!


Octávio Caúmo Serrano



FONTE: Revista Internacional de Espiritismo (RIE) - Janeiro/2011

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Que a Paz do mestre Jesus esteja contigo!