sábado, 7 de abril de 2012

JUDAS ISCARIOTES: REVOLUCIONÁRIO E OBSIDIADO


No contexto do Novo Testamento, a maioria dos apóstolos refere-se à figura de Judas como um traidor e um dos co-responsáveis pela crucificação de Cristo, mesmo sabendo que a traição fazia parte da missão dele no mundo, tal como profetizara Zacarias, sem se ater que ele também foi vítima de um processo obsessivo.


No entanto, Judas entrou para a história do Cristianismo como o principal traidor e poucos se preocupam em conhecer a possibilidade dele ter sido um espírito revolucionário que desejava libertar o seu povo do poderio romano pela força da espada.


No livro "Crônicas de além túmulo" escrito pelo espírito Humberto de Campos, psicografado por Chico Xavier, o próprio Judas teria confirmado sua tendência às rebeliões como arma capaz de triunfar sobre a imposição romana, no seguinte relato:


"(...) eu era um dos apaixonados pelas ideias socialistas do Mestre...planejei então uma revolta surda...O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para umaobra vasta e enérgica...Não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável." (p.41-42)


Embora Judas tenha sido um revolucionário que queria justiça para o seu povo, suas ações também foram influenciadas por um processo obsessivo porque ele próprio parece ter negligenciado do orai e vigiai (Mt 26:41) e por não compreender os ensinamentos de Cristo pautados na tolerância , na humildade e no amor incondicional à humanidade.


João foi o único dos apóstolos a enfatizar várias vezes que Judas estava sendo influenciado por um espírito obsessor, a ponto de torná-lo inquieto e influenciá-lo a tomar decisões comprometedoras em relação a Cristo. Isso pode ser constatado nas seguintes narrativas:


"E um de vós é um diabo. E isso dizia ele de Judas Iscariotes...porque este o havia de entregar..."(Jo 6:70-71)

"E acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes...que o traísse..."
(Jo 13:2)

"E após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: o que fazes, faze-o depressa...E tendo Judas tomado o bocado, saiu logo." (Jo 13:27,30)


Conforme podemos verificar, Judas foi vítima de um processo obsessivo caracterizado por uma subjugação moral em que o subjugado, segundo Kardec no Livro dos Médiuns:"(...) é solicitado a tomar decisões, frequentemente, absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, crê sensatas: é uma espécie de fascinação" (p.242)


No caso de Judas, especificamente, poderíamos conjeturar que a obsessão talvez não estivesse presente no desencadeamento histórico e natural da traição, mesmo Jesus sabendo que seria traído, porque assim estava escrito para que se cumprisse as Escrituras (Jr 26:14).


Isso significa dizer que se Judas não tivesse sido obsidiado, talvez os desdobramentos de sua existência teriam sido outros, a ponto de evitar, por exemplo, o próprio suicídio e suas consequências desastrosas para o espírito, mas não o destino da traição. Ou seja, a subjugação moral a que ele fora submetido talvez não fizesse parte da originalidade da traição, mas uma consequência oportunista dos desatinos a que todos nós estamos confinados quando nos deixamos levar pela invigilância e corrosão do caráter na inquietação pela posse do ouro
(Mt 10:9).


Seja como for, o fato é que Judas foi um revolucionário e um obsidiado que não acreditava muito nas verdades divinas de Cristo (Jo 6:64) e queria que a libertação de seu povo fosse pela revolta da espada, hábito comum entre romanos que dominavam aquela região, e que Emmanuel descreveu detalhadamente em uma de suas obras. ("Há dois mil anos")


Alguns detalhes muitas vezes passam despercebidos na leitura evangélica, mas Judas pareceter sido o último dos apóstolos escolhidos (Mt 10:4), o que nos leva a considerar que ele teve tempo suficiente para ouvir sobre a grandiosidade e a superioridade moral de Cristo e certificar que Ele poderia ser o lider da libertação de seu povo, como é demosntrado tambem num belo filme produzido em 2004: "Judas e Jesus: a história da traição" (disponível em DVD).


Se Judas fez o que fez, não nos compete julgá-lo ou absolvê-lo das próprias decisões tomadas naquela época em que a ignorância e a incompreensão eram uma das características mais acentuadas de seu povo, que resolvia as coisas na base do olho por olho e dente por dente. Nesse sentido, se Judas errou aos olhos do mundo, menos aos olhos do Cristo, não cabe a nós contribuirmos para que sua condenação se naturalize na cultura cristã, mas inseri-lo como mais um homem, dentre muitos que fizeram parte da história do cristianismo.


O caso de Judas nos leva, ainda, a algumas reflexões:
* Será que o homem contemporâneo se transformou espiritualmente desde aquela época?
* Será que já superamos a intolerância e a impaciência em nosso caráter?
* Será que ainda não trazemos em nossa memória espiritual o desejo de resolver as coisas na base do olho por olho?
* Será que já estamos prontos para perdoar nossos irmão setenta vezes sete?
* Será que somos capazes de amar uns aos outros como Cristo nos amou?
* Será que não somos também um pouco Judas ao nos vendermos pela fascinação por bens materiais e desejo de status?
* Será que estamos prontos para abandonarmos nossas vaidades e reconciliarmos com os nossos adversários?


Seja o que for, aprendamos com Judas a não trairmos a nós mesmos em momentos de aflição; tenhamos confiança em Jesus que é o Caminho a Verdade e a Vida; aprendamos a dominar nossos pensamentos para que não sejamos vítimas gratuitas da obsessão; e aprendamos a orar por aqueles que nos perseguem e caluniam.


Saibamos ainda que a vida que nós temos é necessária para a nossa própria correção. Por isso, não turbemos os nossos corações e confiemos em Deus sempre!


Fonte: Revista Internacional de Espiritismo - Abril/2010

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Que a Paz do mestre Jesus esteja contigo!